A dor que começa no corpo, mas se espalha pela vida.
- Rosane Leonel
- 30 de set.
- 3 min de leitura
Você provavelmente conhece alguém que vive com dor todos os dias. Talvez seja você. E o que muitas pessoas ainda não sabem é que essa dor persistente não se limita ao corpo, ela afeta o humor, o comportamento, o sono, a motivação e até a forma como a pessoa enxerga a vida.
Estamos falando da interseção entre dor crônica e saúde mental, um campo que a medicina moderna tem explorado com cada vez mais.
Afinal, é possível tratar a dor física sem cuidar da dor emocional? E quando o cérebro está envolvido nos dois processos, como agir?
Estudos já demonstraram que até 50% das pessoas com dor crônica desenvolvem depressão, e o contrário também é verdadeiro: pessoas com depressão têm maior risco de desenvolver síndromes dolorosas, como fibromialgia, dor lombar crônica, cefaleia tensional ou dor neuropática.
Isso acontece porque a dor e as emoções compartilham os mesmos circuitos cerebrais, especialmente áreas como:
🔹 Córtex pré-frontal: responsável pelo julgamento, memória e tomada de decisão;
🔹 Amígdala: associada à resposta emocional e ao medo;
🔹 Hipocampo: ligado à memória emocional e percepção da dor;
🔹 Sistema límbico: centro do processamento das emoções;
Quando esses circuitos são ativados repetidamente pela dor, o cérebro literalmente aprende a sentir dor, mesmo na ausência de estímulo físico, um fenômeno conhecido como sensibilização central. E é aqui que o corpo e a mente se entrelaçam de forma profunda.
Pessoas com dor crônica frequentemente relatam:
✔️ Fadiga persistente;
✔️ Irritabilidade e ansiedade;
✔️ Isolamento social;
✔️ Perda de produtividade;
✔️ Sensação de inutilidade ou desesperança;
✔️ Alterações no apetite e no sono;
✔️ Dificuldade de concentração.
Esses sintomas muitas vezes não são valorizados como parte da síndrome dolorosa, o que gera frustração e atraso no diagnóstico da depressão associada.
O cérebro funciona como uma central de interpretação da dor. Não é apenas o local onde o estímulo é recebido, mas também onde ele é processado, memorizado e amplificado.
🔬 A neuroimagem funcional já mostrou que pacientes com dor crônica apresentam hiperatividade em áreas emocionais do cérebro, mesmo quando não há estímulo doloroso aparente.
Isso significa que a dor não é mais apenas uma resposta a uma lesão física, mas uma experiência complexa, influenciada pelo estado emocional, pelo histórico de vida e pelo funcionamento cerebral.
Se a dor e a depressão caminham juntas, o tratamento também precisa ser combinado:
✅ Medicamentos neuromoduladores que tratam dor e depressão (como antidepressivos tricíclicos ou duals);
✅ Psicoterapia (especialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental);
✅ Atividade física supervisionada;
✅ Técnicas de relaxamento e mindfulness;
✅ Tratamentos intervencionistas, como bloqueios anestésicos ou neuromodulação (em casos mais refratários);
✅ Acompanhamento multidisciplinar: com neurologistas, neurocirurgiões funcionais, psiquiatras, psicólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.
A dor precisa ser ouvida. E o sofrimento emocional não pode ser tratado como um sintoma “secundário”.
Quando tratamos corpo e mente ao mesmo tempo, a resposta é mais rápida, mais humana e mais eficaz.
Setembro é o mês da conscientização sobre saúde mental. E quando falamos de dor crônica, não há como separar corpo e cérebro.
A dor que persiste, que limita e que isola pode ser também um pedido de ajuda silencioso da alma.
Se você sente essa dor ou convive com alguém que sente, saiba:
não é fraqueza, não é frescura, e muito menos imaginação.
É real, é tratável e merece ser olhada com profundidade, empatia e ciência.
Quer saber mais sobre essa conexão entre dor e emoções? Continue acompanhando nossos conteúdos ou compartilhe esse texto com alguém que precisa ler isso hoje.




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